Pés
Pés de dedos sangrando Pés vacilantes sem direção Pés apressados como um carro em contra-mão Pés acorrentados por invisível cordão Pés que suportam o peso da solidão Pés pela casa, sem seguro, sem ar puro, sem muro Pés pelo quarto de espelhos, sem afeto, sem teto, sem desejos Pés pelos cantos, escondidos, até se perderem, até não verem saída Pés magros, de um dia ruim sem ter comida Pés cegos e surdos Cada corredor é um caminho no escuro Cada voz é um aterrorizante sussurro Pés que perseguem minha sina Cada porta uma perigosa esquina Cada lembrança uma dor que alucina Pés perguntando quem sou Fugitivo ou perseguidor? Invadido ou invasor? Pés, agora descalços a salvos, somente por meu contato com a terra Pés que me salvam da guerra Pés que me conduzem à frente Pés que me trazem à realidade Pés que emprestam um olhar a mente Pés que dão um sentido a eternidade Pés que dão um sentido a sobrevivência da vida Pés que dão um sentido a inexistência da morte Pés que me devolvem a certeza de que sou passageiro um estrangeiro pelos caminhos deste mundo Pés que devolvem a clareza de me sentir por inteiro e mergulhar bem fundo Pés feitos de coragem Pés que transformam a aparente fraqueza em fortaleza e tornam uma bobagem a aparente grandeza do mundo Claudio Lima
Enviado por Claudio Lima em 28/05/2009
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