Velho índio
Seu olhar se estendia sobre a planície A velhice dos dias turvava-lhe a visão Mas, ainda não o impedia de ver As cores do entardecer O esparramar do laranja Avermelhava o horizonte Contornava a montanha Até onde o sol permitia Reviver pudera, na atmosfera O sonho e a nostalgia Seu tempo não mais era contado Sem relógio, sem telefone, sem cidade Visitado pelo passado, ao menos Sua memória não tem idade Apenas imagens e sentimentos Um antigo chapéu de couro Cobría-lhe os poucos cabelos brancos O riso brando e reluzente Com o ouro escondido entre os dentes Sorrindo brinca com as nuvens do dia Antes que a tarde fuja Imagina um gato, uma coruja, um leão... De real apenas um avião Quando a noite entra em cena As estrelas surgem pequenas Parecem ao alcance das mãos O velho índio observa-as, primeiro, como flores em botão E feito um jardineiro, conversa com elas Confessa sua solidão Solidão, somente quebrada Pelas vozes da madrugada Pelo som dos cantos e dos tambores vindos da mata Das cores e das caras pintadas Remetem a um tempo Em que o povo não era dividido A terra não era repartida E a comida era alimento Para toda a tribo Ele sabe e pressente Que um dia destes Acordará num outro continente Aquele que está além das colinas Alem da espessa neblina Lá onde há rios de águas correntes E cristalinas nascentes Onde o sol se faz sempre presente Onde o mal não é semeado E tudo que existe é tratado como Sagrado Como o amor, por ser de Deus emanado E neste dia será recebido em festa Acolhido por esta tribo que tanto o espera Cantaremos, dançaremos e ouviremos Suas histórias do mundo material Terá afinal, o merecido reencontro Antes de estar pronto Para sua próxima jornada Olho, seu corpo ainda dorme Enquanto os primeiros raios solares despontam Dourando o verde pelos campos afora Agora, são tantos olhares em sua direção Sua alma Tupi e saudosa está aqui A sorrir feliz e ansiosa Em visita antecipada À sua nova morada Claudio Lima
Enviado por Claudio Lima em 28/12/2010
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