Desconstrução
Pelo para-brisa, a noite, o frio, o vento o congestionamento. O tempo para debaixo do minhocão, para aqueles que vivem, na contra mão da cidade, na contra mão da vida. Ninguém duvida, é ferida aberta. Famílias inteiras a beira do abismo, laços e corpos em trapos fragilizados pela miséria. Um traço, bem abaixo da média no relatório do IDH. E da ganância do poderosos? E da gatunagem dos políticos? E da gastança dos países ricos? Quantos negros, morenos, brancos, pardos, mulatos de toda a cor? De uma dor que não os escolhe. De uma sociedade que não os acolhe. Seu grito não ouvido, abafado pelo medo da exclusão. Pelo ruído e a solidão das ruas. Sem voz, somente nós na garganta, nós da humilhação por dias e noites e luas. Na avenida, como um barco, sem porto. A deriva, num mar de gente. Dedos sujos pelo pó do asfalto, roupa sobrando ou faltando no corpo. Sempre magro pela droga da fome. Sempre fraco pela fome da droga. Qualquer sobra é comida. Qualquer moeda é bem vinda. Qualquer bebida é uma rota sem saída. Que sempre leva a um duro despertar... O pesadelo de recomeçar a roda viva. Lixeira por lixeira, num roteiro mórbido. Para quem não tem o óbvio. Para quem não tem nada. Nada além da calçada, além de um pedaço de papelão. Feito colchão, no frio chão da madrugada. - “Procure uma marquise para não ser surpreendido por chuva, tiro ou bandido. E avise a policia, se acontecer, para não virar notícia ao amanhecer.” A noite, o frio, o vento, o transito, agora em movimento. Dentro do peito duas perguntas: - O que é feito para modificar isso? - O que faço a respeito do fracasso de nossa civilização? Embora sofra com o tema penso por um tempo e concluo: apenas um poema! E vejo como condutor a distancia, o minhocão perder-se no retrovisor ... Claudio Lima
Enviado por Claudio Lima em 27/11/2013
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