Claudio de Lima

"Passo e fico, como o Universo" O Guardador de Rebanhos - Fernando Pessoa

Textos


Desconstrução

Pelo para-brisa,
a noite, o frio, o vento
o congestionamento.

O tempo para
debaixo do minhocão,
para aqueles que vivem,
na contra mão da cidade,
na contra mão da vida.

Ninguém duvida, é ferida aberta.
Famílias inteiras
a beira do abismo,
laços e corpos em trapos
fragilizados pela miséria.
Um traço, bem abaixo da média
no relatório do IDH.
E da ganância do poderosos?
E da gatunagem dos políticos?
E da gastança dos países ricos?

Quantos negros, morenos,
brancos, pardos, mulatos
de toda a cor?
De uma dor que não os escolhe.
De uma sociedade que não os acolhe.

Seu grito não ouvido,
abafado pelo medo da exclusão.
Pelo ruído e a solidão das ruas.
Sem voz,
somente nós na garganta,
nós da humilhação
por dias e noites e luas.

Na avenida,
como um barco, sem porto.
A deriva, num mar de gente.
Dedos sujos pelo pó do asfalto,
roupa sobrando ou faltando no corpo.
Sempre magro pela droga da fome.
Sempre fraco pela fome da droga.

Qualquer sobra é comida.
Qualquer moeda é bem vinda.
Qualquer bebida é uma rota sem saída.
Que sempre leva a um duro despertar...

O pesadelo de recomeçar a roda viva.
Lixeira por lixeira,
num roteiro mórbido.
Para quem não tem o óbvio.
Para quem não tem nada.
Nada além da calçada,
além de um pedaço de papelão.
Feito colchão,
no frio chão da madrugada.

- “Procure uma marquise para não ser surpreendido por chuva, tiro ou bandido. E avise a policia, se acontecer, para não virar notícia ao amanhecer.”

A noite, o frio, o vento,
o transito, agora em movimento.
Dentro do peito duas perguntas:
- O que é feito para modificar isso?
- O que faço a respeito do fracasso de nossa civilização?

Embora sofra com o tema
penso por um tempo e concluo:
apenas um poema!
E vejo como condutor
a distancia, o minhocão
perder-se no retrovisor ...
Claudio Lima
Enviado por Claudio Lima em 27/11/2013
Alterado em 30/08/2015
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