Expiação
Ele não sabia que eu estava ali a observa-lo, calado, como a penetrar em sua alma, em sua dor e em sua solidão. Percebi que não tinha controle sobre si que não reconhecia o espaço e o tempo que não reconhecia a si mesmo... Estava dividido entre a sanidade e a loucura naquele momento mais para essa última Ele não sabia se ficava ou se corria Cada segundo parecia uma eternidade Lá fora, a tarde caia, a chegada da noite o inquietava e o atraia para a rua Seus olhos, sua boca, a cor da sua pele e o ritmo de sua respiração, assumiam contornos apavorantes Num salto ofegante, atravessou a porta e ganhou o quintal sem direção Difícil saber se algo buscava ou se de algo fugia Não havia qualquer vestígio de aparente racionalidade no seu comportamento Andava entre os prédios Evitava ruas e calçadas Desaparecia atrás de muros e árvores e reapareceria pouco depois Seu comportamento não obedecia a qualquer padrão Os animais e os pássaros da noite assustavam-se com a sua presença Escondia-se na escuridão dos becos e nos subterrâneos da cidade Para não ser visto Para não ser molestado Sem passado ou futuro Em terra desconhecida Buscava apenas contato através do olhar por vezes inexpressivo, sombrio ou alienado Horas depois, estava de volta ao seu quarto, a sua cama dormindo até o amanhecer para depois acordar e tocar a vida em algum lugar do planeta... Acordado, repasso os registros de minha prancheta Há dados que não cabem nesse relato. Para melhor conhecê-lo, enquanto todos dormem , refaço o percurso noturno daquele ser, meio lobo, meio homem. Claudio Lima
Enviado por Claudio Lima em 05/01/2015
Alterado em 02/11/2015 Copyright © 2015. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |