AO SABOR DO VENTO
"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem cada um como é."
Fernando Pessoa
Vou levada pela brisa das tardes
Vou, sem vontade própria,
visitando lugares
grama, bosques, rios, ruas e parques
Vou, em movimentos velozes
por vezes suaves e circulares
Vou observando as pessoas
como os cães, os gatos, os pássaros
e a poeira das calçadas
Vou observando olhares e risadas
Vou ganhando o espaço, o céu e a liberdade.
Vou passando, despercebida pela cidade
estacionando em arvores
esbarrando em muros
distraindo as flores, assustando as moscas...
Vou sem ser notada
sou de natureza frágil.
Vou sem sentido de utilidade
Vou preterida
Meu futuro: ninguém sabe
A degradação ou a reciclagem?
Vou sem noção, vou quem sabe, com sorte
vou melhor se terminar desmanchando-me
numa dessas tempestades de verão.
Esperem. Terminar?
Não!
Vou seguindo o ciclo da transformação
o que já fui, o que um dia serei
pedra, planta, nuvem, firmamento
Quem se importa? Que me importa?
Vou vivendo o momento
Vou vivendo ao léu,
ao sabor do vento
simples folha de papel.